domingo, 11 de janeiro de 2015

Prostituição masculina: um local de sublimação machista.

É  o caso de, nas relações homossexuais ( homem-homem) existir  no mais das vezes uma acentuada relação de poder de um homem sobre o outro. Essa relação está sempre diretamente ligada ao corpo que permite ser invadido ocupando um posição de inferioridade, obviamente isso incomoda mais a quem se dá ao trabalho de discutir tal relação alheio à ela, do que propriamente o sujeito que está sendo submetido. Essa relação não é mais do que uma releitura do discurso comum à sociedade ocidental como a conhecemos. O fato de o órgão genital feminino ser carregado do sentido de falta, por se tratar de um orifício à ser preenchido, o fato de ser penetrável e adaptável ao membro viril dá à vagina um sentido de passividade, pois quem recebe a designação de membro ativo é o pênis. A mulher então é posta sexualmente ( e não somente, mas a partir dessa disposição) como inferior. A homossexualidade é então para as convenções sociais não mais que uma cópia aberrante do que seria a mulher no meio social. Nesse sentido é importante observar que é o mesmo discurso aplicado à diferentes sujeitos.
Na relação heterossexual, com certeza podemos enxergar muitas diferenças moralizantes entre a cópula de um homem em matrimonio, com relação à cópula com uma prostituta, o rebaixamento do ato sexual com a prostituta é, com efeito, o que dá o tom de transgressão à ação socialmente reprovável ( à luz do dia). O cliente que procura a prostituta fora do matrimonio sabe que faz de certa maneira algo reprovável, em condições reprováveis, por meios e com fins reprováveis. Essa baixeza, que se manifesta inclusive por meio da linguagem,  mas não somente, é o objeto erótico do homem que procura a prostituta.
Da mesma maneira o homem que procura outro homem sabe, ou melhor, provoca e por vezes exige essa tal baixeza que só a prostituição consegue atribuir ao sexo, é um sentimento profano, que contribui para o investimento no meretrício. A diferença primordial está no mais das vezes ( haverão casos avessos) na posição que o prostituído alcança nessa relação. Ao contrário das prostitutas que são em certa medida abusadas pelo domínio da masculinidade, os michês geralmente contratados para efetivar na relação um papel de dominação são colocados em um outro local, onde as prostitutas não chegam, são eles, mesmo que na maioria das vezes economicamente inferiores que mantem o controle e o poder durante a cópula, não significando que após essa a situação se inverta, mas fica um pouco mais nebulosa. Tendo-se em vista que os homossexuais que contratam o programa estão à procura mesmo de um “macho”, é nesse sentido que esses assumem então o posicionamento que socialmente seria tomado por uma mulher. É nessa mesma medida que podemos tomar o michê-macho, independente de ser uma personagem ou não, como um sujeito constituinte da chamada escória urbana ( pois minhas acusações se limitam à São Paulo), que recebe de determinadas maneiras privilégios que as prostitutas são incapazes de alcançar. O michê macho é pago para reafirmar sua masculinidade ( mesmo que fingida ou forçada), e exercer sobre um corpo que se propõe submisso, o que já é segundo sua construção de homem uma prática comum, inferiorizar um outro sujeito rebaixando-o à um objeto sexual. Em verdade podemos olhar os dois lados da moeda,  em mesma medida socialmente é o prostituído o objeto sexual, como experiência sexual é o cliente sodomizado o objeto sexual desse michê, que ele mesmo fez com que fosse naquela experiência o seu soberano, e dá-se à ele como objeto.
Posso dizer com propriedade, a procura de um homossexual  não é como podemos supor, a procura por um outro de status social igual, existe hoje todo um imaginário gay (e a indústria pornô tem seu mérito na formação desse imaginário), que pelo menos quando falamos de prostituição, quer a imagem de um homem que não remonte em nada a sua própria “inferioridade” de um ser afeminado, pelo contrário, se quer um homem heterossexual, sem se dar conta do absurdo que se pede, como seria possível que um homem heterossexual se interessasse por um outro homem, sem que nisso viesse a ser homossexual? Para tal a resposta é imediata, se recorre à uma masculinização excessiva da figura homossexual, e na prostituição essa é talvez a principal exigência, pois só por meio da troca, do pagamento pelo sexo, é que um homem poderia copular com outro sem que assim fosse homossexual.

Com efeito existem também os homossexuais afeminados que se prostituem, entretanto esses que chamamos de michê-bicha, se encontram novamente no patamar da baixa prostituta no mais das vezes, mudando raramente essa disposição quando sua aparência masculina ( mesmo que de gestos afeminados)permite gerar no seu cliente um certo respeito solidário, mas desde que esse não seja passivo na relação. Sendo o michê-bicha quase sempre o passivo na relação, geralmente contratado por homens mais velhos, muitas vezes nem assumidamente homossexuais, esse michê, mesmo de aparência masculina será na cópula indiscutivelmente uma figura inferiorizada, geralmente sodomizada e rebaixada. E novamente volto a dizer, geralmente não há para nenhuma das partes um desconforto com relação à essa pirâmide, todo desconforto fica por conta de quem alheio à tal experiência enxerga nesse michê um tipo de degradação maior, um degradação que ultrapassa à do michê convencional e o coloca ao lado das prostitutas.

Se o desejo maior do homossexual é ter uma experiência com um heterossexual e a prostituição garante que esse homem possa ceder a tal experiência, sem que isso implique na “homossexualização” dele, a prostituição é nesse caso a via que permite a obtenção de um objeto de desejo, que somente por uma relação de interesse seria possível, caso contrário, a gratuidade dessa relação levaria á decepção que implica em manter uma relação sexual com um homem que também se interessa por outros homens, pois na gratuidade não vejo outro motivo se não o próprio desejo do individuo “heterossexual”.

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