sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O que é que tem de mais?

Sexo e moral, são como água e olho, ingredientes usados no feijão com arroz. Para mim tudo que eu desempenho com intuito sexual é sexo, sendo assim nunca fiz do meu sexo uma equação do bem e do mal, pois, não vejo como uma necessidade avaliar, quantificar ou racionalizar minhas práticas sexuais enquanto são executadas, em verdade, acredito que ninguém pense em valores segundos antes de gozar.
Legislar o sexo, atribuindo valores à ele, fazendo uma lista de regras, leis e condutas a serem respeitadas é algo inconcebível à minha libido; isso pois, a libido não respeita nem mesmo o que eu determinei para mim como "correto", por vezes encontro a mim mesmo reprimindo-me, ao não atuar sobre o meu sexo com total entrega, eu deveria me guiar pelos instintos. É quando racionalizo essa auto-repressão que me pergunto de quê me vale tal esforço? Por qual motivo eu deveria medir meu desejo ( e meu ato) pelas especulações que precedem minha sexualidade? Por que sou gay, sem tendências ao romance, sem tendência à monogamia, sem tendência à família? A resposta talvez seja: Por qual motivo não ser? Por que não transgredir?


Joel-Peter Witkin "Le Baisier", 1982

Foi uma cruel batalha, abdicar da moral judaico-cristã, digo isso pois, essa moral repressora à minha condição, precede minha existência, o que implica em abrir mão do bem, logo, optar pelo mal (se é que existem mesmo esses polos na sexualidade). Durante minha infância fui guiado por palavras de valor moral, essas por sua vez só me fizeram criar pulsão transgressora, desejei a cada dia subverter meus pais, subverter aquelas regras chatas, a vida sexual monótona que eles me apresentavam, não suportava ser contido em minhas falas e meus gestos para ser um "homem correto". Sempre foi motivo de asco o incentivo familiar à objetificar as meninas afim de reafirmar minha masculinidade, reprimir, oprimir e objetificar mulheres, almejar constituir uma família e repassar os esses mórbidos "desvalores". Essas condutas que me foram delegadas afim de me tornar um bom homem teriam me tornado um alienado, sexista, machista, caso eu me inclinasse à elas, por isso talvez eu tenha me entregue à uma certa conduta transgressora à qual me engajo, e hoje tomo como meu princípio ético, não reprimir-me e responsabilizar-me por todo e qualquer ato que eu empreenda.
Transgredir à moral, pelo menos com relação ao sexo é por tanto combater as imposições da beatitude forjada que nos é culturalmente introjetada. Eu dou preferência à transparência de meus atos, não que eu seja exibicionista- não que eu não venha a ser- não  que eu faça com o intuito de expor, mas para mim o lançar-me como um espirito transgressor é um exercício de combate à repressão sexual. Não pretendo aqui fazer apologia à promiscuidade ( ou talvez eu queira), mas sim, por em pauta o questionamento do " o que é que tem de mais" .
O que é que tem de mais, me esfregar, me tocar, sentir o outro, lubrificar, deliciar-se, lambuzar-se, dar o cu? Fazer sexo fora do período fértil, chupar pinto, lamber xota, linguar cu, receber dedo, dar dedo, pedir dedo, pedir com dedo na boca, gemer, gritar, pedir mais? Ser mais sexual, o que é que tem de mais?

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