Somos nós todos seres construídos socialmente, e essa influência vai além do que percebemos como politica ou das valorações religiosas, todos os valores introjetados pela cultura em nossos corpos e em nosso espírito, todos os julgamentos, impedimentos e castrações, são enfiados em nossas vidas de modo tão natural que, por muitas vezes não nos damos conta de que maneira estamos sendo controlados. Teremos sempre que ultrapassar as barreiras como um ser social e encontrar a maneira de ser não construída pelo exterior, mais próxima de nossa cerne, cotidianamente torna-se uma tarefa difícil, mas quando se trata de sexo falamos de uma necessidade . O sexo é um algo que será explicado por diversas ciências, de diversas maneiras e com diferentes propósitos, entretanto essa fixação por afirmar incessantemente sobre o sexo, dize -lo como é, como se faz, como se pode fazer, mostra-nos que de fato o sexo é tão obscuro e tão complexo, que se faz necessário dogmatiza-lo, produzir verdades sobre ele, colocar-lhe regras, de maneira muito semelhante à como se faz para justificar a criação do universo, algo que não sabemos mas acreditamos saber para nos confortar e não nos constrangermos com objetos que não temos domínio ou entendimento. Essa carência de entender tudo e todos, faz com que nos apeguemos a qualquer falácia que pareça mais fácil de aceitar, o que gera preconceito, e condutas castrarias e moralistas.
A biologia tratará o nosso sexo como órgãos, a psicologia tratará como interação entre mente e corpo (o físico como efeito do psicológico), a religião tratará como pecado e assim vamos negligenciando uma necessidade, uma fonte inesgotável de prazer e realização, transformando-o em um simples objeto de estudo das ciências, ou fator de condenação moral, um monstro corrupto nas teologias e um problema para o indivíduo.
Faz-se necessário reconhecer que o sexo que nos é ensinado de maneira pedagógica e também por absorção cultural, não é e jamais será o sexo do afeto, do desejo, da vontade e da potência.
Essa pauta surgiu do enorme desgosto que tenho passado, ao transar com pessoas que querem ser na cama, exatamente a mesma merda de pessoa que se é no escritório; além de reproduzirem posições machistas e que parecem praticar um pecado. Algumas vezes identifico nos homens homossexuais uma vergonha de ser passivo, uma vontade de ser ativo, um medo de liberar-se. Algumas vezes posicionam -se como "homens-mulher", deixando claro que querem ser submissos, fetichizam a posição desfavorecida das mulheres e reproduzem assim uma opressão.
"O direito de ser mulher" ou " o direito de ser macho" é algo tão ridículo de se por na cama, que eu sinceramente não consigo nem falar sobre, pois de fato se temos algum direito, esse é o de sermos nos mesmos, ente enquanto ente, um ser sexual enquanto um ser sexual, dessa maneira não. Levamos para nosso suposto momento de prazer todas essas construções constrangedoras da sociedade.
Já não me cabe aqui fazer o julgamento dos motivos pelo qual os gays que passaram pela minha cama, não conseguem se afirmar como simples e somente seres humanos em busca de prazer. Algumas vezes homens fantasiam ser mulher na minha cama, outras vezes posicionam-se como machos alfa, querendo me "submeter a condição de mulher" a qual eu não pertenço, nem biologicamente, nem socialmente nem psicologicamente, torna-se extremamente cansativo imitar casais heterossexuais, enxergar a mulher como submissa e tirar alguma prazer disso.
Não fica confortável quando se associa a passividade na relação homossexual à uma submissão, que está diretamente atrelada à submissão historicamente marcada da mulher no sexo, na sociedade na vida. Não é compreensível que nós gays, tão oprimidos pelo machismo Tenhamos prazer em reproduzi-lo em nossas próprias relações. Não entro numa foda em busca de estabelecer relações de poder ou de rotulação do ser, pelo contrário, vou me desconstruir, ser o máximo de mim, toda minha perversidade, minha imoralidade meus instintos, é nessa métrica que busco o prazer. Não se vai ao privado afim de incorporar o público, não é a sociedade que eu quero na minha cama, é o prazer é alguém de corpo inteiro pra preencher esse estranho vazio chamado moral